Etnicidade, cultura e modelos de gestao : os blocos afros do carnaval da Bahia
Resumen
As singularidades da identidade brasileira representadas pela etnicidade baiana ou as características sócio-culturais a que chamamos baianidade estao determinando o surgimento de organizacoes de caráter associativo que a partir da legitimidade do produto étnico-cultural que levam ao mercado tem-se afirmado na economia local. A importancia desse fenomeno pode ser mensurada pelos indicadores do PIB do Estado da Bahia (que é maior do que os do Paraguai e Uruguai somados) que exibem um impacto de 4% do mercado cultural na economia, enquanto que o turismo, uma vocacao natural da cidade (pela sua importancia histórica, geográfica e cultural), e que demanda altos investimentos públicos tem um peso no PIB de pouco mais de 2 por cento. A partir do caso de tres blocos afro, busca-se analisar a relacao entre afirmacao da negritude, desenvolvimento economico e modernizacao de Salvador, por um lado, e entre o produto cultural desses blocos e o mercado, por outro. O primeiro bloco, o Apaches do Tororó (bloco de índio precursor dos atuais blocos afro) surgido de uma relacao estreita com a comunidade do bairro do Tororó, depois de uma fase áurea na segunda metade dos anos setenta, entrou em decadencia e deu lugar aos novos modelos de organizacao como o Ile-Aie e o Olodum. O Ile, por seu lado, é o momento mais importante de afirmacao da negritude baiana em forma de organizacao cultural ligada ao carnaval. Entretanto, sua importancia étnica nao conseguiu ainda resultar em viabilidade economica no mercado, tendo, ainda hoje, grandes dificuldades de viabilizar patrocínios. O Olodum é o primeiro bloco afro a conseguir um sucesso empresarial significativo aliado a uma acao social consistente, mas vai conhecer outras crises: a crise de financiamento, empregabilidade e faturamento, sem perder, no entanto, o seu formato organizacional, até agora o mais eficiente dentre as organizacoes afro-baianas.