O servidor público e a administração 2.0: transparência e accountability
Resumen
A governança e a governação em rede são hoje aceites em geral como uma necessidade. O desenvolvimento das ferramentas da Web 2.0 concorre para a concretização deste modelo de governação. A sua utilização coloca uma pressão organizações da Administração Pública (AP) ao confrontá-las com a sua vontade e capacidade de utilizar essas ferramentas ao serviço dos princípios da transparência, participação e envolvimento dos cidadãos. Embora a AP reconheça as virtudes duma administração 2.0 no plano dos princípios, as suas organizações ainda não os valorizam e nem sempre estão preparadas para os aplicar. Muitas concentram-se nos riscos que associam a uma administração aberta, não vendo a criação de valor que pode trazer para as organizações públicas. Em causa está a transformação da cultura, da organização e do funcionamento da AP e a necessidade de preparar as pessoas que para ela trabalham, tanto ao nível da literacia digital como das competências societais e de comunicação online - de modo a habilitá-las a contribuir activamente para a concretização duma administração 2.0. O trabalho em curso no quadro do comunidades@ina (http://comunidades.ina.pt) confirma que projectos desta natureza - partilha de informação/conhecimento e participação em redes sociais - são projectos que só adquirem consistência a médio a longo prazo. Os verdadeiros desafios residem na disponibilidade das organizações públicas para dar livre acesso à informação que detêm e na sua capacidade para motivar os seus colaboradores a partilharem o seu conhecimento e passarem do paradigma inicial da Web-Google (ligar pessoas com conhecimento) para se exprimirem e estabelecer relações com stakeholders. A situação actual reflecte a tensão entre a cultura das redes - essencialmente aberta e colaborativa - e a cultura tradicional nas organizações públicas onde predomina uma cultura de controlo, hierarquia e previsibilidade. As práticas de partilha e participação dos vários actores envolvidos serão, ainda por algum tempo, dispersas, coexistindo organizações que utilizam as tecnologias para envolver os cidadãos com muitas outras onde o modelo de gestão tradicional e o respectivo quadro mental se manterão. As organizações públicas devem ser incentivadas a adoptar uma cultura de participação e de aprendizagem partilhada, e de inovação online assente no recurso a ferramentas colaborativas. Muito provavelmente a pressão para a mudança virá do exterior, e acabará a prazo por influenciar a utilização das ferramentas da Web 2.0 nas próprias organizações. Entretanto, é fundamental que as organizações valorizem e compensem os colaboradores que utilizam novos métodos e ferramentas da Web 2.0 para resolver tarefas e para aprender. Apesar das dificuldades apontadas, avançar para projectos desta natureza representa um risco menor do que não avançar. É necessário fazer cada vez mais coisas com as pessoas e não para as pessoas explorando as oportunidades criadas pela Web 2.0.