De que precisamos para responder às crises: ¿novas políticas públicas ou nova economia? Algumas reflexões
Abstract
A crise financeira e económica actual não é semelhante a todas a que a precederam, mas será, talvez, o somatório de todas a que a precederam. E tal constatação coloca-nos um conjunto de questões relacionadas com a análise das causas e consequências da crise (remotas e próximas), com a identificação dos actores, e, fundamentalmente, com as medidas, reguladoras e profiláticas, que devem ser empreendidas de modo a evitar novos acontecimentos do mesmo género. É neste contexto que nos propormos apresentar algumas reflexões: O sistema capitalista, apesar de sofrer uma das crises mais severas de sempre, evidencia uma substancial capacidade de se reinventar, pelo que urge determinar quais as condições necessárias para essa reinvenção. Destacamos a capacidade dos líderes políticos mundiais de definir, em conjunto, políticas públicas sustentáveis e contra-cíclicas, comportando mecanismos de estabilização e regulação. A convicção de que as políticas públicas de combate à crise não podem ignorar as externalidades, negativas e positivas, que resultam da sua aplicação. A economia mista do pós-guerra foi gerida ao nível dos estados, mantendo à distância a economia internacional. Ora, o avanço da globalização, nomeadamente financeira, tornou impossível a manutenção daquela postura. Torna-se imprescindível considerar a transição da versão nacional da economia mista para o seu equivalente global, o que significa, entre outros aspectos, um melhor equilíbrio entre os mercados e as suas instituições de apoio a um nível global. A necessidade de alterar o enfoque da ciência económica actual, passando do desenvolvimento de modelos de base matemática, de equilíbrio parcial, que assumiam quase sempre as mesmas premissas, para a necessidade de considerar componentes fundamentais para a explicação do sistema económico e social, que terão agora de ser accionados para ajudar a resolver a crise actual e, principalmente, prevenir crises futuras.