Tecnologias sociais : princípios, processos e produtos : a experiência dos programas alfabetização solidária e artesanato solidário no Brasil
Abstract
A Comunidade Solidária nasceu de convicções, valores e princípios. Convicções de que a miséria no Brasil deveria e poderia ser solucionada e trabalhada e que o valor norteador de qualquer ação nesse sentido seria a solidariedade. Determinou-se também, que toda atuação seguiria os princípios da descentralização, da focalização, da construção de parcerias, da participação e da transparência. Após sete anos de atuação, vários avanços, compreensões e novos conceitos foram produzidos. Em primeiro lugar, e talvez a maior percepção de todas, é a certeza de que é possível lidar com a miséria de forma solidária desenhando e implementando ações baseadas nos cinco princípios descritos acima. Mas o que foi possível observar ultrapassa e muito esta primeira constatação. A prática desses princípios gerou, para além da expectativa, a produção de novos conceitos gerenciais de caráter geral assim como de âmbito operacional, os chamados processos, bem como engendram o desenvolvimento de produtos inovadores, prontos para replicação. Esses conceitos gerenciais, resultantes da prática dos programas da Comunidade Solidária, desenvolveram novas tecnologias sociais, entendidas como um conhecimento, uma ferramenta ou uma atitude que viabiliza ou potencializa o gerenciamento de programas e projetos sociais. Os processos inovadores desenvolvidos encarnam e materializam os princípios e valores supracitados, daí porque se inicia com a própria concepção do programa neles sustentados. Destacamos: -Concepção do programa baseada em princípios e valores, e orientada por problemas e oportunidades; -Estratégia de autonomização após incubação e avaliação de piloto; -Programas com focalizações estratégicas; -Ambiente pró-inovação; -Construção de parcerias; -Gestão em rede de conhecimento especializado; -Estratégias de comunicação e captação de recursos (marketing dos programas); -Monitoramento inovador com múltiplos propósitos; -Programas com avaliações constantes e diferenciadas. Não necessariamente têm de ser o princípio ou o processo novos, mas antes o seu uso pode ser inovador. Um sistema de monitoramento não é uma ferramenta nova, mas sua construção e utilização podem ser inovadoras e fazerem a diferença no cômputo geral de um programa. Ademais, princípios como transparência e descentralização tampouco são novos, sequer para o Brasil. Não obstante, a prática deles o é, sobretudo sua boa prática. O compromisso, portanto, desta apresentação é descrever os conhecimentos, ferramentas e atitudes vivenciadas e inventadas pelos programas que compõem a Comunidade Solidária, certos da importância desse debate na reflexão sobre as novas perceptivas da gestão social. Os resultados alcançados pela Comunidade Solidária, utilizando as novas tecnologias sociais, evidenciam a necessidade e possibilidade de urgentes transformações no âmbito da gestão social.