Emancipaçao e modernidade : o paradoxo indivíduo versus coletivo na perspectiva das organizaçoes nao-governamentais
Abstract
O objetivo deste texto é realizar uma breve reflexão sobre as ONGs circunscritas à tensão indivíduo versus coletivo, tensão esta própria do contexto da Modernidade, analisando a identidade social e práticas destas organizações enquanto possibilidade de emancipação humana. A Modernidade pode ser pensada enquanto uma realidade plurifacetada/ multifacetada em todas as esferas da ação humana (política, econômica, cultural) que sugere a emancipação do homem pela possibilidade de múltiplas escolhas sobre sua ação no mundo. Esta possibilidade é, ao mesmo tempo, um desafio, pois coloca-nos em suspenso na medida em que retira-nos os referencial(is) de nossa existência outrora oferecidos pela religião ou por outras instituições. Neste contexto de múltiplas escolhas e desafios, como pensar a possibilidade de emancipação considerando as polarizações como direito à diferença e à igualdade, as relações público/privado e individual/comunitário, entre outras? No século XVII, Kant identificou na Razão/Racionalidade a possibilidade de emancipação do ser humano. Sua proposta constitui-se num paradigma para a ação fundamentado num projeto (racional) marcado por uma crescente divisão e especialização dos saberes, que ensejava a busca de métodos apropriados e específicos que possibilitariam um progresso constante. Mas este processo cartesiano de divisão e especialização, além de ocorrer na esfera científica, também cindiu a realidade entre ciência e política. Se por um lado a ciência mostrava-se como possibilidade emancipativa do homem por meio do acelerado desenvolvimento da técnica, por outro, a emancipação do homem também era discutida numa perspectiva política. Pensar estas ambivalências enquanto proposta única de emancipação tornou-se possível a partir do último quartel do século XX, quando Habermas, herdeiro da Escola de Frankfurt e na esteira de Weber, desenvolve uma crítica à racionalidade (instrumental) e oferece uma possibilidade de concretização do que ele chamou de "modernidade inacabada" através da "ação comunicativa". Minha proposta neste artigo é de que o modus operandi das ONGs oferecem uma proposta de emancipação política e humana a partir de sua forma de organização e ação, desempenhando um papel importante frente ao Estado em termos de parceria e controle. Na tentativa de superação das dicotomias da Modernidade pela luta aos direitos acima mencionados, estas organizações apresentam-se como locus privilegiado para o exercício de uma individualidade dentro da coletividade, apontando para a possibilidade de emancipação pela concretização de seus objetivos, bem como pela sua proposta e forma de organização social.