A implantação do Programa Fome de Livro no Brasil e suas possibilidades de geração de capital social no país

Abstract

O Programa Fome de Livro está sendo implantado no Brasil como um conjunto de ações e projetos para democratizar o acesso ao livro e a outras formas de informação, além de fomentar a leitura e valorizar o livro no país. Trata-se de tentar superar mais uma das grandes contradições brasileiras: apesar de ser o oitavo maior produtor de livros do mundo, nosso país possui baixos índices de leitura se comparado a outros - 1,8 livro por habitante/ano, contra 5 nos EUA, ou 7 na França.

Coordenado pelo Ministério da Cultura, por meio da Fundação Biblioteca Nacional, ele integra os vários projetos e ações em torno do livro e da leitura já existentes no país como forma de promover maior sinergia e otimizar os esforços e investimentos do governo federal na área. E, ao mesmo tempo em que se apresenta como um programa de governo, tem como forte diferencial uma complexa articulação com os mais diferentes setores da sociedade brasileira. São parceiros do Fome de Livro os governos estaduais, prefeituras e instituições como Unesco, Associação Nacional de Jornais, Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, Câmara Brasileira do Livro, Sindicato Nacional de Editores, Associação Nacional de Livrarias, União Brasileira de Escritores, Academia Brasileira de Letras, ONG's e empresas e escritores de todo o País.

Outro diferencial importante do Programa é que, em vez de apenas doar kits de livros ou repassar algum tipo de recurso financeiro, o Fome de Livro está estimulando um novo modelo de relação entre governo e sociedade, com papéis e responsabilidades para todos. As novas bibliotecas terão um acervo básico de 2.500 títulos, sendo 20% escolhidos e comprados regionalmente com autores e temas locais, além de contar com assinaturas de jornais, vídeo-cassete, computador, livros para deficientes visuais, exibição de filmes, palestras, contadores de histórias e exposições diversas.

Em seus objetivos específicos, o Programa deve articular todos os níveis de governo e organizações da sociedade para elaboração de uma Política Pública Nacional de Leitura para os próximos vinte anos, dinamizar as bibliotecas já existentes para que funcionem como centros geradores de cultura, contribuir para aumentar os atuais índices de leitura do País, atuar para reduzir o número de analfabetos funcionais e promover a inclusão cultural das populações excluídas da vida sócio-econômica do país.

Quanto aos resultados esperados até 2006, o Fome de Livro deve criar mil bibliotecas públicas em todas as regiões do país, preferencialmente nas pequenas cidades com baixo IDH e analfabetismo alto, deve estender a possibilidade de acesso gratuito ao livro a 14 milhões de cidadãos em cidades atualmente sem bibliotecas, livrarias, bancas de jornal ou internet, além de criar 4 mil empregos, capacitar 15 mil bibliotecários, educadores e dirigentes de bibliotecas e 5.000 agentes culturais e comunitários.

O Fome de Livro constitui-se, assim, como uma ação planejada de governo voltada para, como dizia o poeta Waly Salomão, superar a "fome de livros" existente no Brasil e, com isso, contribuir na geração de um capital social de suma importância para o país: o da criação de laços de confiança fundados na percepção de que nossa identidade cultural sustenta-se a partir da sua diversidade e multiplicidade.