Estudo de um assentamento no Brasil: o caso de uma cooperativa e a promoção da cidadania no Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra

Abstract

Atualmente as políticas públicas para área rural exigem repensar alguns aspectos inseridos história do Brasil, até novas teorias e conceitos que vem tomando espaço na literatura da área, produzindo conhecimentos e revelações sobre a importância da cooperação para a agricultura familiar e das possibilidades de se alcançar um desenvolvimento sustentável que gere benefícios a toda comunidade. A partir desta perspectiva, o presente artigo analisa o caso de sucesso do Assentamento Santa Maria, localizado na cidade de Paranacity no estado do Paraná, Brasil. São 69 pessoas, 17 famílias, sendo que 41 delas estão na faixa de economicamente ativas, trabalhando na cooperativa existente no mesmo - a Copavi - Cooperativa de Produção Agroindustrial Vitória Ltda, que confunde sua história com a do assentamento projetado para o trabalho cooperativo dos acampados. Como pano de fundo, o trabalho aponta a relação desta experiência com as novas teorias e concepções da ruralidade, como o conceito de desenvolvimento territorial, desenvolvimento sustentável e o capital social, que estão presentes na agenda das políticas públicas do século XXI. A pesquisa realizada também comparou a vida das famílias antes de participarem do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra com a vida atual no Assentamento Santa Maria, para analisar as diferenças em torno das dimensões: econômica, social e política. Para melhor compreender as condições de vida das famílias do Assentamento Santa Maria a pesquisa envolveu 13 famílias, as que participam do assentamento desde seu início.

A pesquisa indicou que falar em desenvolvimento territorial e desenvolvimento endógeno implica na existência de capital social, que por sua vez carrega conceitos de tradição, cooperação, política e identidade, formação de redes e parcerias, que devem ser estimuladas e consolidadas de acordo com as regiões estudadas. Parte do princípio que mais do que simples espaço físico envolve relações dos indivíduos, sendo uma verdadeira trama que possibilita um desenvolvimento, não só econômico, mas social dos envolvidos. Nesse sentido que pode se afirmar que o Assentamento Santa Maria, através de sua forma de gestão -a Copavi - possui mais que assentados em busca da sobrevivência familiar através da agricultura. Através de seus projetos, do seu histórico e da própria pesquisa, chega-se a conclusão que as dimensões econômicas, sociais e políticas caminham juntas em busca do desenvolvimento. Temos que considerar também que a existência do capital social no assentamento se deve em grande parte ao movimento do MST, que tem uma cultura própria, carregada de valores, já propícia a propagação laços de confiança, de reciprocidade, de envolvimento político e de participação cívica, fatores esses estimulados com a cooperação estruturada na Copavi. O Assentamento Santa Maria torna possível a desmistificação do "arcaico" rural brasileiro, evidenciando que a agricultura familiar pode gerar sim um desenvolvimento que vai além da sobrevivência, mas que considera que ainda há solução para tantos excluídos da nossa sociedade através de um desenvolvimento que vai além da condição humana de sobrevivência na gestão de políticas públicas para este setor.