Gestao pública e redes de compromisso social

Abstract

Este trabalho focaliza a gestao pública como responsabilidade compartilhada entre Estado e sociedade, abordando as redes de compromisso social como uma alternativa para trabalhar questoes sociais complexas.

A idéia de rede tem aparecido fortemente nas discussoes sobre as políticas sociais como uma alternativa para a sua gestao, com vistas a ampliar os seus resultados e impactos.

Essa visao tem sido provocada pela crítica à gestao das políticas publicas através de estruturas organizacionais cujo modo de operar tem sido fragmentado. E, também, pela observacao de que há questoes sociais que nao podem ser equacionadas isoladamente, quer por organizacoes nao governamentais quer pela acao setorial do Estado.

A rede, na perspectiva contemporânea, é constituída por entes autônomos, com identidade e objetivos próprios, que passam a se articular, em funcao de uma idéia abracada coletivamente. Supoe um processo de tecelagem contínuo que vai se dando através do compartilhamento de interpretacoes e sentidos e da realizacao de acoes articuladas pelos parceiros.

A rede de compromisso social, "refletindo a lógica de dominacao da formacao de redes na sociedade informacional e reagindo a ela" (Castells, 1999:426), é aquela que se tece com a mobilizacao de pessoas, sensibilizados pela percepcao comum de um problema social e por um ideal compartilhado.

Esse tipo de acao articulada tem relacao com a idéia de sociedade solidária, tal como é apresentada por Rosanvallon, de aproximar a sociedade de si mesma, inserindo-se no tríplice movimento de reducao da demanda do Estado, de reencaixe da solidariedade na sociedade e de producao de uma maior visibilidade social (1997:86).

A Rede Adolescente - Interacoes pela Vida! é o caso analisado para dar suporte às consideracoes sobre o modelo de rede de compromisso social. Essa Rede define-se como uma parceria voluntária e autônoma, de instituicoes públicas, organizacoes nao governamentais e voluntários, para a realizacao do propósito de contribuir para melhorar a qualidade de vida dos adolescentes e para reduzir o consumo de drogas em uma regiao paulista.

A Rede nasceu de um trabalho de planejamento intersetorial, de caráter participativo, em uma regiao do Estado de Sao Paulo, Brasil. Analisando as estratégias possíveis para trabalhar o problema da drogadicao na populacao adolescente, um grupo de pessoas considerou que tecer uma rede seria a melhor forma de alcancar resultados de caráter transformador. A partir dessa escolha, foram mobilizadas parcerias e tecidas redes municipais, algumas articuladas pelas Prefeituras, outras por Organizacoes Nao Governamentais.

A história de dois anos da Rede Adolescente oferece material para análise desse modelo de organizacao da sociedade, indicando alguns desafios a serem enfrentados para as redes tornem-se espacos para gerar solucoes criativas e de caráter transformador para a sociedade e para a gestao pública.