Crises financeiras e reformas: políticas para a redução da vulnerabilidade externa
Abstract
A crise econômica internacional atual intensifica a oposição ao livre mercado na América Latina. Nos países desenvolvidos, a crise impulsiona a contenção dos excessos da desregulamentação econômica, que permitiram o crescimento de bolhas especulativas. Líderes latino-americanos encontram mais uma justificativa para sua oposição às reformas de mercado: o retorno de um papel ativista do Estado na economia seria necessário para superar a crise. Crises financeiras tiveram um efeito catalizador para a ascensão de forças políticas anti-mercado na América Latina, desde o final dos anos 1990. Vitórias eleitorais são carreadas em um discurso crítico às reformas, obscurecendo que a causa fundamental para o colapso dos mercados financeiros nacionais está na adoção de políticas macroeconômicas insustentáveis. A saída mais coerente para a recuperação econômica é atacada: aprofundar as reformas de mercado, que permanecem inacabadas. Em seu lugar, são promovidas políticas de fechamento comercial, controle de capitais e aumento da intervenção do Estado sobre a economia. A inserção nos fluxos econômicos internacionais - de comércio, investimentos e finanças, vetores altamente entrelaçados na atualidade - é um processo que pode contribuir para o desenvolvimento econômico e social. A vulnerabilidade a crises financeiras é um risco inerente a esta alternativa de inserção internacional, que deve ser considerada de forma consequente e enfrentada diretamente. Crises auto-realizáveis ocorrem quando os fundamentos macroeconômicos de um país dão margem à existência de equilíbrios múltiplos. Para que a possibilidade de crise se concretize (o país alcance o "mau equilíbrio") é preciso que os investidores percam a confiança na capacidade do país preservar o valor de sua moeda, ou mesmo honrar seus compromissos externos, percebendo um aumento no risco de default. A subsequente retirada dos recursos financeiros do país, devido à deterioração das expectativas (pânico), provoca uma piora nos fundamentos, conduzindo a uma crise financeira, que realiza as expectativas dos investidores. A prevenção de crises financeiras deve enfocar a melhora nos fundamentos macroeconômicos, aproximando o país da condição em que um ataque especulativo não é capaz de levar à erupção de uma crise - as autoridades não encontram dificuldade em defender a moeda. Manter a estabilidade monetária (inflação baixa), equilíbrio fiscal (controlar o déficit público) e um balanço de pagamentos equilibrado são condições essenciais para que um país consiga defender um "bom equilíbrio" (sem crise) frente a um ataque especulativo. A confiança dos investidores na sustentabilidade dos pagamentos externos é diretamente influenciada pela consolidação de políticas condizentes com a estabilidade macroeconômica, o que requer reformas institucionais e a formação de consensos políticos interpartidários que deem suporte ao fortalecimento da economia de mercado.